O jornal O Globo publicou, nesta segunda, 28, uma curiosa matéria sobre a situação do serviço público no país. Intitulada Um quarto dos servidores federais vai se aposentar em uma década, prevê governo a matéria busca discutir a projeção, segundo a qual, dentro de menos de uma década o serviço público federal terá uma redução de um quarto de seu pessoal, que hoje conta com 570,590 mil servidores ativos, em razão da aposentadoria desse montante de trabalhadores.
A matéria em questão tem como objetivo endossar o argumento do governo federal a respeito da suposta necessidade de uma reforma administrativa, tal como proposto na PEC 32. Para ambos, será necessário fazer primeiro uma reforma administrativa na gestão pública, para somente depois considerar a possibilidade de novos concursos que possam suprir as vagas que estarão em aberto, conforme a projeção citada.
Para tanto, o Globo recorre a um vocabulário já bem gasto, ao afirmar que uma reforma administrativa teria como objetivo a “modernização da gestão, ao aumento da eficiência e, consequentemente, à redução de gastos.” Um grande engodo.
Na verdade, o jornal Globo, como um dos grandes porta vozes dos interesses da iniciativa privada em nosso país, recorre a belas palavras para esconder o que realmente está em questão em nosso país, quando se trata de serviço público: O Brasil precisa de mais investimento público e de mais serviços públicos para atender sua população com qualidade e eficiência.
Não por acaso, a matéria recorre à opinião de especialistas e figuras ligadas ao MGI, mas não se propõe a escutar uma só liderança sindical do funcionalismo público. A eles, não interessa saber o que nossos sindicatos têm a dizer sobre as condições atuais de trabalho e nem sobre a reforma administrativa.

Foto: Asduerj/reprodução
Em nosso país, a proporção de servidores públicos em relação à força de trabalho total é de cerca de 12%. Uma média muito abaixo da média dos países da OCDE, que gira em torno de 23,48%. Países como a Dinamarca e Noruega oferecem bons serviços públicos porque há de fato investimento público. Enquanto 30,22% da força de trabalho do país é constituída de servidores federais, na Noruega 32,5% de força de trabalho é empregado no serviço público.
Contudo, para setores da grande imprensa, como é o caso de O Globo, a máquina administrativa do Brasil ainda é muito “inchada”, segundo costumam afirmar. Para eles é preciso reduzir gastos o máximo possível e cortar pessoal. Mas com que objetivo? A mesma matéria fala que outras áreas podem ser beneficiadas, como saúde e educação. É o famoso, “na volta a gente compra”.
A verdade é que, por trás desse discurso ilusório, o que o setor privado de fato defende é que o governo gere o máximo de superávit para o pagamento da dívida pública, um perverso mecanismo que há décadas drena nossas riquezas para os bancos privados, ao custo da precarização do serviço público brasileiro, para a qual a PEC 32 e outras medidas de austeridade neoliberal não são solução.